NARCISO

 

Atiram pedras aos outros

por verem espelhos em tudo

para não ser como eles

fecho os olhos fico mudo

 

Mas ainda assim e sempre

é sempre comigo que eu ando

amando-me continuamente

em tudo o que vou amando

 

Narciso afinal não foi

o que não o seja algum

e a eternidade o que é

senão a vida de cada um ?

 

É impossível que o mundo

por mais que nos minta a voz

não seja antes de tudo

absolutamente nós

 

Cada um é como o outro

ofuscante torre de marfim

de si para si murmurando

não consigo viver sem mim

 

 

João José Grade Duarte Belo

A Inacreditável Flexibilidade do Tempo, 1987 

(Ex-professor da Escola Preparatória de Alenquer)

 

 

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